Tenho 5 anos no mercado de trabalho, sei que não é muito tempo, mas o suficiente para entender que, no momento, uma carreira freelancer cai melhor na minha vida do que trabalhar em uma empresa.
Apesar de sempre vislumbrar a vida de “freela”, não foi tão simples decidir e nem tão rápido fazer essa mudança. Comecei a olhar o que me incomodava e o que me motivava a sair da empresa que estava trabalhando, passei a levantar algumas perguntas e razões pra poder entender se, de fato, essa era a melhor decisão.
Entendendo o cenário Há quase 3 anos, quando comecei a trabalhar na última empresa, muitas decisões importantes estavam acontecendo na minha vida. 1 semana antes de começar, eu e meu marido ficamos noivos e 2 meses depois fomos morar juntos, o apartamento dele ficava um pouco mais distante do trabalho.
6 meses depois a empresa anunciou que iria mudar a sede para 40km de distância da minha casa, e com o trânsito do Rio de Janeiro, isso significava muitas horas para o deslocamento. Havíamos recém reformado o apartamento e decidido planejar nosso casamento para o ano seguinte.
Para me ajudar a ficar menos cansada com o deslocamento, e o excesso de baldeações de transporte para ir trabalhar, decidi começar a ir de carro. Pouco tempo depois, recebi uma promoção e mudei para um time que me fez evoluir bastante como profissional, tudo parecia realmente maravilhoso. Aos poucos o trânsito foi começando a piorar e o meu deslocamento que era de 1h começou a ser de 2h a 3h por trecho. Você pode pensar que uma solução para isso tudo seria se mudar para um local mais perto, mas no momento pra mim isso não era uma opção, pois envolvia outras questões além da minha relação com o trabalho.
No fim de 2019 eu já estava exausta, estava há meses organizando meu casamento (o que não foi uma tarefa fácil), produzindo um projeto artístico, trabalhando e ainda fazendo alguns trabalhos por fora para conseguir quitar todas os boletos da festa.
Fiquei um tempo sem saber direito o que era sábado e domingo, além de ter picos de exaustão, o que me fazia não querer sair de casa ou fazer qualquer outra coisa no dia. Comecei a sentir muita falta de ir mais à academia, ler, cozinhar, inventar projetos novos e até mesmo relaxar.
O problema pra mim não era o trabalho, mas sim a frustração de querer tantas coisas ao mesmo tempo e não conseguir fazê-las, que muito se devia a quase 5h que perdia com deslocamento. Por isso que no meio de 2019 a visão de trabalhar em casa começou a se tornar menos sonho ou um pensamento para “talvez um dia” e passou a ser algo que eu realmente queria atingir. Pra isso me fiz essas perguntas:
#1 Financeiramente é possível? Sem dúvidas que para ter uma vida como freelancer é extremamente importante considerar a saúde financeira. Se você tem dívidas, é melhor manter o certo do que trocar pelo duvidoso.
Felizmente o meu marido possui um trabalho estável e assumo que essa segurança facilitou muito a minha decisão. Se você ainda precisa fazer as contas, eu criei uma planilha um tanto básica, mas que pode ajudar a entender seu cenário financeiro:
É muito importante pensar sobre isso e acima de tudo ter um fundo de emergências, pois, infelizmente, a gente está alheio para qualquer situação nessa vida.
#2 Por que eu quero ser freelancer de forma integral?
O pensamento de “não ter mais chefe” muitas vezes é o primeiro que vem à cabeça, seguido de “ter tempo livre”, mas a verdade é que se você não estiver disposto a se cobrar, estabelecer horários, criar metas, prazos e afins nos seus projetos, mesmo que pessoais, talvez você não queira ter uma carreira autônoma mas só está insatisfeito ou morando longe demais do seu trabalho.
#3 O que eu preciso para começar? Existem investimentos e investimentos. Sem dúvidas o melhor ambiente de trabalho é aquele com o melhor computador, uma cadeira de couro confortável e ar-condicionado no máximo em uma sala ampla com uma vista maravilhosa.
Antes de ir comprando tudo ou ter aquele pensamento “se eu não tiver isso, não dá para começar”, é importante realmente entender o que é essencial. No meu caso foi comprar uma cadeira de escritório, um monitor, um móvel para guardar meus materiais, uma luminária e abrir espaço na minha parede para encher de post-it. Meu computador está longe de ser o melhor, meu monitor é de segunda mão e os móveis foram comprados em uma super promoção, fiz o investimento mínimo para ficar confortável no espaço.
#4 Como vou conseguir crescer? O lado ruim de não estar trabalhando em algum lugar, é que você acaba perdendo momentos valiosos de troca e feedback, o que acaba ajudando a melhorar, e muito, o trabalho.
Acredito que é importante ter uma disciplina de sempre estar buscando referências, acompanhar portfólios e não se limitar às paredes de casa.
#5 Eu sei me planejar? Ser autônomo requer, e muito, planejamento e uma boa noção de quanto tempo você demora para fazer seu trabalho. No início eu sentia dificuldade em estabelecer esse tempo e acabava virando noites para poder entregar o trabalho no prazo, com o tempo fui entendendo um pouco mais a minha disponibilidade para trabalhar, só porque o dia tem 24h, não significa que essas mesmas horas tenham que estar 100% ocupadas com trabalho.
Quando senti que as respostas que eu dava para essas perguntas fizeram sentido pra mim, entendi que estava pronta para essa mudança.
Claro que não me demiti de uma hora para outra, conversei bastante com meus chefes e com as pessoas no meu time, informei a data para todos e comecei a trabalhar para que esse meu processo de saída fosse o mais tranquilo possível. E acredito que foi.
Ilustrações: @gotoworkpio
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